sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ano II - número 12 - nov./dez. / 13: Estrutura e formação das palavras - II: composição e outros processos - texto 1

TEXTO:
já não é hoje?
    não é aquioje?

já foi ontem?
    será amanhã?

já quandonde foi?
    quandonde será?

    eu queria um jazinho que fosse
    aquijá
    tuoje aquijá.
(Alexandre O'Neill - Poesias completas)

ANALISANDO O TEXTO
1. O processo de formação da palavra "aquioje" é a composição por justaposição. Note que a palavra "hoje" sofre alteração na grafia (cai o h), mas não alteração fonética. A palavra realiza a união das dimensões de espaço e de tempo: indica um lugar e também um momento. É óbvio que tal fato é permitido dentro da liberdade poética.
2. A composição por aglutinação é o processo de formação da palavra "quandonde", uma vez que ocorre alteração fonética com a perda do fonema /o/. Essa palavra constitui a interrogação que corresponde à fusão das dimensões de tempo e de espaço.
3. O processo de formação da palavra "jazinho" é a derivação sufixal ou sufixação. O diminutivo possui valor afetivo: indica o apreço de quem fala por aquilo de que fala.
4. As duas palavras que formam o último verso do poema, "tuoje" e "aquijá", apresentam o mesmo processo de formação, ou seja, a composição por justaposição. Em "tuoje", une-se a pessoa amada à dimensão do tempo; "aquijá" faz a união de espaço e tempo.
5. O português Alexandre O'Neill emprega no poema repetidamente o mesmo recurso do uso de neologismos obtidos pelo processo da composição. Isso coopera para a construção da expressividade do texto porque consegue dizer muito e para a construção de um texto sintético, com poucos vocábulos. Observe a importância da repetição do "já", que é a palavra-chave do texto.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ano II - número 11 - set./out. / 13: Estrutura e formação das palavras - I: derivação - texto 2

TEXTO: 
Corte da Otan não desnucleariza Europa
De Berlim
  
         O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental), Manfred Woerner, afirmou que apesar da redução de 80% no arsenal da organização, a Europa não será uma área desnuclearizada no futuro. Ele participou de uma reunião de dois dias da Otan em Taormina (Itália).
         Depois do corte de armas a Otan ainda manterá cerca de 700 bombas nucleares, das 1.400 que possui, na Europa. Os outros cortes foram a retirada das armas nucleares de curto alcance (granadas e mísseis Lance). Essas armas deverão ser devolvidas aos Estados Unidos onde serão destruídas. Segundo a Otan, não existe um prazo definido para a operação, que não inclui as armas nucleares francesas e britânicas.
             O projeto de uma força militar da Comunidade Européia, lançado pela França e pela Alemanha, também foi discutido durante a reunião. Os ministros da Defesa dos países-membros estavam preocupados com o esvaziamento da Otan, mas foram informados pelo ministro da Defesa da Alemanha, Gerhardt Stoltenberg, que a nova força não vai competir com a Otan e que seu efetivo ainda não foi precisado. (FG) (Folha de S. Paulo, 19/10/91.)

ANALISANDO O TEXTO
Quando essa notícia foi publicada, o verbo "desnuclearizar" e o adjetivo "desnuclearizada", derivado do verbo, não foram localizados nos dicionários de língua portuguesa. Apesar disso, a grande maioria dos leitores conseguiu compreendê-los. A compreensão deles não foi difícil porque o falante da língua portuguesa consegue "decifrar" o significado das palavras por ser conhecedor do sentido do radical e dos afixos acrescentados a ele. Ambas são palavras formadas pelo acréscimo sucessivo de sufixos e prefixo ao radical "-nucle-": des-nucle-ar-iz-a-r e des-nucle-ar-iz-a-d-a. Observe que os sufixos são acompanhados pelas desinências necessárias.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ano II - número 10 - jul./ago. / 13: Estrutura e formação das palavras - I: derivação - texto 1

         02 DE JULHO DE 2013: data memorável para o BLOG PROF. STEFAN - LÍNGUA PORTUGUESA - TEXTOS ao atingir a marca significativa de 1000 VISUALIZAÇÕES em um ano e meio de efetiva presença na rede mundial de computadores. Expressivos agradecimentos a todos vocês, internautas leitores do Brasil e também dos países americanos, europeus e asiáticos (Estados Unidos, Alemanha, Rússia, Japão, Reino Unido, Coréia do Sul, Tailândia, Polônia, Portugal, Indonésia, Ucrânia e Canadá), por acessarem continuamente este BLOG, que veicula o produtivo estudo da língua portuguesa e a sua riqueza comunicativa. 

TEXTO: Quero (Carlos Drummond de Andrade)

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo, 
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.


ANALISANDO O TEXTO
1. Neste poema de Drummond, o verbo "amar" aparece com diversas formas. Ei-las juntamente com a depreensão correta dos morfemas que as compõem e sua classificação: am-o, am-a-do, am-a-s, am-a-r, am-a-ste. Am-: radical; -a-: vogal temática; -do, -s, -r, -ste: desinências.
2. Há também determinados nomes que pertencem à mesma família do substantivo "amor": am-a-ção: am-: radical; -a-: vogal temática; -ção: sufixo/   amor-os-o:  amor-: radical; -os-: sufixo; -o: desinência/    não-amor: não-: prefixo; -amor: radical.
3. Observe a palavra "vez". Ela é formada exclusivamente pelo radical, não apresentando vogal temática ou desinência.
4. Na passagem "amor na raiz da palavra", a palavra "raiz" é utilizada em sentido literal: indica a parte da palavra cuja forma e sentido são reconstituídos etimologicamente pelos trabalhos de pesquisa. "Amor na raiz da palavra" é, pois, amor no sentido primeiro e original do termo, ou seja, amor puro e genuíno.
5.  Para o sujeito lírico do poema, é através da emissão e da repetição das palavras que a realidade se instaura: se não houver repetição da declaração amorosa, o amor deixa de existir. 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ano II - número 9 - mai./jun. / 13: Acentuação

TEXTO:  In: ANGELI, José.
Dom Quixote
         A intençao de Cervantes, ao escrever o Dom Quixote, era satirizar a novela de cavalaria, que tinha sido muito popular na Europa e em sua epoca enfrentava a decadencia. Mas acabou retratando o perfil do homem dividido entre a fantasia e a realidade. Dom Quixote, fidalgo ingenuo e atraido pela historia dos grandes cavaleiros medievais, sai pelo mundo como um deles, numa epoca em que isso ja nao existia mais. Nos seus delirios, luta contra moinhos de vento achando que sao gigantes crueis. Beija a mao de uma guardadora de porcos pensando que e sua amada Dulcineia. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, admira o amo sem entende-lo. Tem os pes na terra e uma visao pratica das coisas, mas e fascinado pela sua loucura. Duas figuras cheias de bondade e pureza, num mundo onde nao ha lugar para a bondade e a pureza.

ANALISANDO O TEXTO
1. Você percebeu que, de propósito, foram tirados do texto todos os sinais gráficos indicadores de sílabas tônicas ou de nasalização para que possamos colocá-los todos, justificando cada caso.
2. Intenção (nasalização); época (proparoxítona); decadência / ingênuo (paroxítonas terminadas em ditongo crescente); atraído (hiato); história (paroxítona terminada em ditongo crescente); época (proparoxítona); já (monossílabo tônico); não (nasalização); delírios (paroxítona terminada em ditongo crescente); sao (nasalização); cruéis (ditongo aberto tônico); mão (nasalização); é (monossílabo tônico); Dulcinéia (ditongo aberto tônico); entendê-lo (oxítona terminada em e fechado); pés (monossílabo tônico aberto); não (nasalização); há (monossílabo tônico aberto).
3. Tanto em moinho como em moído existe hiato. Porém, no primeiro caso, o i não recebe acento gráfico e no segundo caso, sim.
4. A regra é a seguinte: devem ser acentuados o i e o u tônicos que formam hiato com a vogal anterior, como no caso de moído; entretanto, não devem ser acentuados o i e o u quando formam hiato e vêm seguidos de l, m, n, r, z (desde que não comecem sílabas) ou seguidos do dígrafo nh, como no caso de moinho.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Ano II - número 8 - mar./abr. / 13: Ortografia

TEXTO:  crônica de autoria de Mario Prata. In: O Estado de S. Paulo, 12/11/1997.
Acabaram com a nossa letra
         Faço as minhas compras no supermercado, pego o meu talão de cheques, vou preencher. A mocinha:
           _ Pode deixar que a máquina faz isso!
           Fico uns segundos atabalhoado, olho para o cheque.
           _ Faço questão de eu mesmo preencher.
           E preenchi.
           A cena é corriqueira, não é? Mas ali, naquele momento, aquela mocinha estava me tirando o prazer de colocar a minha letra no cheque. Afinal, pensei eu naquele momento, é a única coisa que eu escrevo à mão: o cheque.
       Você já notou que a gente não escreve mais nada? Nada! Acho que desde que saí da faculdade não uso a mão para tais finalidades. Estão aí todas as máquinas e cartões para tal uso.
         E olha que aprender a escrever à mão, no meu tempo, era uma dificuldade. No curso primário a gente tinha aula de linguagem. Tinha o caderno de linguagem, que todos eram obrigados a comprar. A linha era subdividida em duas partes, sendo a de baixo menorzinha para caberem as letras baixas, como o "a" e o "o", por exemplo. E quando pintava um "l" ou um "t", tinha que ir até lá em cima. Assim, todo mundo ficava com a letra igual à da professora, que era perfeita, por sinal.
            Com o passar dos anos e com o desuso, a minha letra foi ficando horrorosa. Nem eu mesmo entendia. Passei a só escrever em letra de forma. O tempo passou mais e mais e a letra de forma se foi deformando toda. Mas dava para o cheque. Agora, com a máquina de preencher cheque, lá se vai a minha letra. Com você anda acontecendo o mesmo? 
                Tenho certeza que, no futuro próximo, os alunos vão levar os notebooks para a sala de aula. A letra à mão será coisa pré-histórica. Imagino os novos alunos, quando já grandinhos, olhando as receitas dos médicos e imaginando que os pais e avós escreviam daquele jeito. Ou será que também os médicos vão ter uma maquininha para dar suas tortas receitas?
                Fico triste ao constatar tudo isso. É como se uma parte de mim fosse embora. Uma parte 
trabalhada duramente durante anos e anos.
              O correio-elegante das quermesses, como ficará? Persistirá, mesmo com as pessoas tendo letras cada vez mais confusas? Como conquistar uma moça com aquela letra, gente? E o cartãozinho das flores remetidas? Será que só usaremos as letras manuais para os motivos apaixonantes?
                 Chegará o momento que usaremos a nossa mão apenas para a assinatura. Ou será que teremos um cartão a laser que, passado em cima de um papel, depois de codificado por um número, imprimirá nossa assinatura? Ou será que voltaremos ao uso infalível da impressão digital?
                Será que um dia chegaremos ao absurdo de ser proibido escrever à mão? Penas pesadas   para os infratores? Fulano preso escrevendo poesias em plena praça. O que o pai do fulano não vai pensar daquilo? Mesmo a multa aplicada pelo guarda não será escrita à mão. Ele digita a placa do seu carro e a informação vai diretamente para o Detran.
               Nos países mais metidos a besta (também conhecidos como Primeiro Mundo), os garçons já pegam o seu pedido com um minicomputador que leva imediatamente o seu pedido para o cozinheiro. Nem garçom vai escrever mais.
           Claro que o jogo do bicho será rapidamente informatizado, evitando aqueles papeizinhos que a gente sempre perde ou não confere. Sorteio de amigo-secreto com aqueles pedacinhos de papéis dobrados. Sobreviverá? Haverá, na repartição, ainda alguém com boa letra para tanto?
                Como as secretárias vão avisar o chefe que fulano telefonou a tal hora? Tudo por cabos eletrônicos, é claro.
                 Agendas eletrônicas já se encontram em qualquer das boas casas do ramo.
                 E conta? Alguém ainda faz contas no papel? Será que nas escolas ainda ensinam raiz quadrada, com o aluno ali com a sua calculadora? Você deve saber que, nos vestibulares, já se admitem as tais maquininhas.
                    Listinha de pecados para se confessar. Grava-se num gravadorzinho e enfia no ouvido do padre. Afinal, os nossos pecados são sempre os mesmos. Principalmente o pecado da preguiça, que marcará nossas vidas neste século que está chegando. Em algarismos romanos, sei lá por quê.


ANALISANDO O TEXTO
1.  O texto é uma crônica muito bem-humorada do escritor Mario Prata, que, tendo como ponto de partida a máquina eletrônica de preencher cheques, mostra um homem engolido pela sociedade tecnológica.
2.  O cronista lamenta que, paulatinamente, através do uso das máquinas, as pessoas deixem de escrever. O fato desencadeador de suas reflexões é aquilo de novo no supermercado: a máquina preenche o cheque. O ato de escrever corre o sério risco de desaparecer. 
3.  A palavra letra é empregada com alguns significados:  de caligrafia ("... a minha letra foi ficando horrorosa.") e de sinal gráfico utilizado na escrita ("... sendo a de baixo menorzinha para caberem as letras baixas ...").
4.  Pensando nos mecanismos que podem substituir a escrita manual, após uma série de conjeturas, o autor indaga: "Ou será que voltaremos ao uso infalível da impressão digital?". Depois de um longo período de substituição da escrita manual, ele sugere que a volta à impressão digital representa a volta ao analfabetismo. Supõe-se que, deixando de escrever, o homem se esqueça de tudo. Na realidade, os registros continuariam sendo feitos de outra maneira e a leitura continuaria existindo.
5.  A última frase da crônica se relaciona com tudo o que Mario Prata disse, pois ele sugere que acontecerá com a escrita manual o mesmo que acontece com os algarismos romanos: tão distantes do nosso mundo atual e tão anacrônicos.
6.  Para escrever um texto, uma pessoa necessita de um lápis ou de uma caneta, de um pedaço de carvão, de uma máquina de escrever ou de um computador; necessita de papel ou muro ou parede, tábua, pedra, areia da praia; precisa ter uma idéia, conhecer as letras e as palavras, enfim, precisa ser alfabetizada. 

                 

            

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ano II - número 7 - jan./fev. / 13: Fonologia

         Na presente publicação, o BLOG PROF. STEFAN - LÍNGUA PORTUGUESA - TEXTOS está celebrando o seu primeiro ano na rede mundial de computadores. O BLOG jubilosamente estende as congratulações a todos os internautas leitores, que aperfeiçoam continuamente a sua comunicação lingüística através da rica variedade de textos apresentada.

TEXTO:  Epidemia polissilábica  (Otto Lara Resende)

         RIO DE JANEIRO - Já se disse que a crise é de dicionário. Paulo Rónai denunciou a existência de uma geração sem palavras. Uma só, não, digo eu. Várias. A crise é semântica, disse um professor na Sorbonne, que convocou um seminário. Pode ser, diz o Pedro Gomes. Mas é também polissilábica. E me expõe a sua tese: nenhum país agüenta tantos palavrões como os que circulam agora por aí. Palavrão no sentido estrito de palavra grande.
             A maior delas, como aprendemos na remota infância, tem até governado o Brasil. É essa mesmo: inconstitucionalissimamente. Depois deste advérbio, no seu hoje modesto pioneirismo, apareceram verdadeiros bondes vocabulares. Autênticos minhocões. São cada vez mais numerosos e compridos, como a composição ferroviária que transporta minérios. A perder de vista, todos têm de cinco sílabas para cima. São centopéias de tirar o fôlego e de destroncar a língua.
            Na porta do Jockey, depois do almoço, um sujeito conversava outro dia, sereno, sobre a atratividade do investimento superavitário. Temi pela sua digestão, se é que não foi vítima de uma congestão. Ou de um insulto cerebral. Mas há pessoas insuscetíveis de insulto, sobretudo cerebral. É o caso do cidadão que discorreu sobre o obstaculizado caminho que o Brasil tem de percorrer, se quiser alcançar um nível de competitividade num cenário de internacionalização do livre-cambismo.
                  Até a carta-testamento do Getúlio, obstaculizar não tinha feito a sua aparição triunfal. Dizem que foi idéia do Maciel Filho, que tinha este vezo nacionalista da palavra complicada. Na verdade, é difícil inovar o jargão político. Para atacar José Américo de Almeida, história antiga, Benedito Valladares lançou no mercado a palavra boquirroto. Logo os adversários disseram que era soprado pelo Orozimbo Nonato, um íntimo do Vieira e do Bernardes. Arrazoava com um cunho seiscentista.
                Enfim, tudo hoje em dia gera distorções. Gerar é um verbo-ônibus. Serve para tudo. Confiemos, porém, que a seu tempo, a nível de país, na expressão abominável que hoje é corrente, a solução seja equacionada. A desestabilização extrapola de qualquer colocação. Longe de mim o catastrofismo, mas no caminho polissilábico em que vamos, a ingovernabilidade é fatal. E talvez passemos antes pela platino-dolarização contingencial.   (Folha de S. Paulo, 22/07/91)


ANALISANDO O TEXTO
1.  O primeiro parágrafo apresenta o assunto que será tratado. A estratégia utilizada para isso é a seguinte: para introduzir o assunto, o texto apresenta primeiramente afirmações relacionadas a ele (a "crise do dicionário", a "geração sem palavras" e a "crise semântica") para posteriormente (através de uma frase introduzida pela conjunção coordenativa adversativa "mas") seguir para o tema central: o excesso de polissílabos. O humor participa já nesse parágrafo, quando existe referência aos sentidos possíveis do vocábulo "palavrão".
2.  Já o segundo, o terceiro e o quarto parágrafos  levantam dados para desenvolver o assunto proposto. Os dados oferecidos na argumentação são os seguintes: partindo da célebre palavra "inconstitucionalissimamente", o autor cita vários episódios em que os polissílabos foram usados abusivamente. O texto utiliza esses episódios e as palavras nele envolvidas para comprovar a tese de que os polissílabos invadiram o Brasil.
3.  O "palavrão"  "tem até governado o Brasil" porque, durante o ano de 1991, diversos decretos e leis inconstitucionais foram encaminhados ao Congresso Nacional e alguns deles foram aprovados pelo então presidente da República, Fernando Collor de Mello.
4.  A passagem "Mas há pessoas insuscetíveis de insulto, sobretudo cerebral."  é irônica. Ela sugere que há pessoas cuja capacidade cerebral limitada as torna invulneráveis a insultos. Elas provavelmente não os entenderiam.
5.  Ser  "íntimo do Vieira e do Bernardes" significa ser leitor dos autores clássicos da língua portuguesa, no caso, os padres Antônio Vieira e Manuel Bernardes, que foram escritores no século XVII. Otto Lara Resende era, evidentemente, conhecedor desses autores e dos outros citados no texto. Pressupõe-se que o leitor seja capaz de compreender tais referências. Assim, caracteriza-se o perfil do emissor e do receptor do texto.
6.  "Verbo-ônibus" é um verbo que "serve para tudo", isto é, utilizado com os mais variados sentidos nos mais diversos contextos.
7.  O último parágrafo expõe a conclusão do texto. A ironia novamente é o principal recurso expressivo, pois o autor utiliza os polissílabos sobre os quais vinha falando, criando uma linguagem empolada de forma ridícula.
8.  O texto apresenta muitas imagens deliciosas para se referir aos polissílabos: "bondes vocabulares", "autênticos minhocões", "composição ferroviária que transporta minérios", "centopéias de tirar o fôlego e de destroncar a língua".
9.  O abuso de polissílabos é prejudicial à comunicação na medida em que a linguagem se torna complicada. Isso pode significar um forte desejo de desinformar. A desinformação ocorre quando não se tem nada de importante a dizer ou, sobretudo, quando se quer mascarar a realidade por intermédio das palavras.