Já
já não é hoje?
não é aquioje?
já foi ontem?
será amanhã?
já quandonde foi?
quandonde será?
eu queria um jazinho que fosse
aquijá
tuoje aquijá.
(Alexandre O'Neill - Poesias completas)
ANALISANDO O TEXTO
1. O processo de formação da palavra "aquioje" é a composição por justaposição. Note que a palavra "hoje" sofre alteração na grafia (cai o h), mas não alteração fonética. A palavra realiza a união das dimensões de espaço e de tempo: indica um lugar e também um momento. É óbvio que tal fato é permitido dentro da liberdade poética.
2. A composição por aglutinação é o processo de formação da palavra "quandonde", uma vez que ocorre alteração fonética com a perda do fonema /o/. Essa palavra constitui a interrogação que corresponde à fusão das dimensões de tempo e de espaço.
3. O processo de formação da palavra "jazinho" é a derivação sufixal ou sufixação. O diminutivo possui valor afetivo: indica o apreço de quem fala por aquilo de que fala.
4. As duas palavras que formam o último verso do poema, "tuoje" e "aquijá", apresentam o mesmo processo de formação, ou seja, a composição por justaposição. Em "tuoje", une-se a pessoa amada à dimensão do tempo; "aquijá" faz a união de espaço e tempo.
5. O português Alexandre O'Neill emprega no poema repetidamente o mesmo recurso do uso de neologismos obtidos pelo processo da composição. Isso coopera para a construção da expressividade do texto porque consegue dizer muito e para a construção de um texto sintético, com poucos vocábulos. Observe a importância da repetição do "já", que é a palavra-chave do texto.
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