quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ano V - número 30 - nov./dez. / 16: Estudo dos advérbios (classe invariável) - texto 2

TEXTO:
Culpa irradiada

         Cinco anos depois de uma cápsula com césio-137 radiativo ter sido exposta num ferro velho em Goiânia, matando quatro pessoas e causando lesões físicas em pelo menos 16, os responsáveis pelo incidente foram finalmente condenados pela Justiça.
         Apesar da morosidade excessiva do processo _ marca infelizmente tradicional do Judiciário brasileiro _, não deixa de ser digno de nota o fato de que não prevaleceu, desta vez, a impunidade tão corriqueira no país.
         Os acusados _ três sócios do instituto de onde o césio foi retirado e o técnico responsável _, a quem cumpria guardar o produto radiativo, foram condenados por homicídio e lesões corporais culposos.
         Embora ainda caiba recurso, merece destaque desde já a punição cominada pelo juiz. Em lugar de uma contraproducente sentença de prisão _ lamentavelmente comum mesmo para condenados que não oferecem risco social _, o magistrado optou pela prestação de serviços, tornando o cumprimento da pena útil, em vez de oneroso, para a comunidade.  (Folha de S. Paulo, 8/8/92.)


ANALISANDO O TEXTO
1. O texto se divide da seguinte forma: introdução: primeiro parágrafo; desenvolvimento: segundo e terceiro parágrafos; conclusão: quarto parágrafo.
2. Relendo com atenção o parágrafo introdutório, destaca-se o advérbio "finalmente". Ele não se limita a indicar uma circunstância de tempo no contexto em que ocorre. Pelo contrário, sua finalidade principal é indicar um julgamento de valor da parte do produtor do texto. Existe todo um mecanismo de pressuposição por trás dele. É como se afirmasse que "após todo esse tempo e toda a espera e sofrimento que se tiveram de suportar".
3. No segundo parágrafo, "infelizmente" não exprime circunstância de modo, e sim mais um julgamento de valor do produtor do texto.
4. Ainda no segundo parágrafo, o advérbio de intensidade que aparece é relevante para a argumentação. A palavrinha "tão" possui um significado muito importante para a argumentação textual porque introduz uma forte carga de conteúdos pressupostos. Se for retirada, ocorrerá a perda da noção de excesso transmitida por ela.
5. No último parágrafo, o advérbio "lamentavelmente" também não exprime circunstância de modo. Trata-se de outro advérbio de modo indicando avaliação subjetiva da parte do produtor do texto.
6. A utilização dos advérbios pode exprimir dados objetivos, importantes para que os ambientes e ações sejam caracterizados, ou dados subjetivos, que se referem à avaliação que o produtor do texto realiza a respeito dos fatos levantados.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Ano V - número 29 - set./out. / 16: Estudo dos advérbios (classe invariável) - texto 1

TEXTO:
Poema só para Jaime Ovalle

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei, 
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
_ Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

(BANDEIRA, Manuel.  In: Poesia completa e prosa)


ANALISANDO O TEXTO
1. Os advérbios presentes no texto poético são os seguintes: hoje, ainda, já, então, depois, novamente, humildemente.
2. Os advérbios novamente e humildemente podem ser substituídos, respectivamente, pelas locuções adverbiais de novo e com humildade.
3. Os advérbios hoje e ainda (primeiro verso) indicam a circunstância de tempo.
4. O advérbio humildemente (último verso) expressa a circunstância de modo.
5. O antepenúltimo verso do poema ( "Bebi o café que eu mesmo preparei") revela a solidão do poeta. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ano V - número 28 - jul./ago. / 16: Estudo dos verbos (III) (classe variável): valor e emprego das formas verbais - texto 3

TEXTO:
Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


(MORAES, Vinicius de. Poesia completa & Prosa)


ANALISANDO O TEXTO
No "Soneto de separação", é empregado apenas um único tempo verbal, o pretérito perfeito do indicativo. O tema do soneto se relaciona com o valor desse tempo verbal, que é próprio para exprimir processos ocorridos e concluídos no passado. Essas noções se ligam perfeitamente à ideia da separação, do rompimento entre um momento passado e o presente.

domingo, 22 de maio de 2016

Ano V - número 27 - mai./jun. / 16: Estudo dos verbos (III) (classe variável): valor e emprego das formas verbais - texto 2

TEXTO:
Pena de morte

         Cada aplicação da pena capital nos EUA ressalta o paradoxo entre uma sociedade tida como das mais democráticas do planeta e a preservação de um instituto marcadamente brutal e incivilizado. Com a morte de um prisioneiro anteontem na Califórnia, subiu para 167 o número de execuções nos EUA desde 1976, data da reimplantação da pena de morte.
            Mais importante do que sublinhar a crueldade do método utilizado _ a câmara de gás _ é repisar os argumentos contrários a esse tipo de sanção. E eles são vários. Ao aplicar a pena de morte, o Estado desce à mesma condição aviltante do delinquente responsável por um ato hediondo. Pior, correndo o sério risco de cometer uma injustiça fruto de falhas processuais, as quais ficam sem possibilidade de reparação.
         Nem sequer como medida exemplar o dispositivo pode ser justificado. São inúmeros os estudos a mostrar que a aplicação da pena de morte não diminui a criminalidade. Na medida em que toda sanção tem como um de seus objetivos coibir a reprodução de comportamentos antissociais, só esta constatação bastaria para desautorizar o uso de método tão bárbaro e sinistro.
         O direito moderno dispõe de meios de dissuasão muito mais eficazes e contundentes para combater a delinquência, sem precisar recorrer a procedimentos que atentam contra a inviolabilidade da vida humana. Por tudo isso, é extremamente lamentável que num país como os EUA os emocionalismos prevaleçam sobre os argumentos da razão.  (Folha de S. Paulo, 23/4/92.)

ANALISANDO O TEXTO
1. O valor do uso do presente do indicativo na primeira frase do texto é indicar processo de efeito já tornado habitual, de validade permanente. Essa frase apresenta o tema a partir de fato efetivamente ocorrido e já indica o tratamento que será dado a esse tema (o texto argumentará contra a pena de morte).
2. O tempo verbal que predomina no segundo parágrafo é o presente do indicativo (é, são, desce, ficam). Em todas as ocorrências, ele indica processos continuados, fatos de validade permanente.
3. A primeira frase do segundo parágrafo apresenta dois argumentos: a crueldade do método utilizado e os vários argumentos contrários a esse tipo de sanção. Esses argumentos são apresentados pela estrutura argumentativa "mais importante do que... é...", que, além de possibilitar a exposição simultânea de dois argumentos, permite hierarquizá-los, destacando o segundo deles. Observe que a partir do segundo membro dessa estrutura o parágrafo continua a se desenvolver.
4. O valor da expressão "nem sequer" na argumentação é atuar como elemento indicador de pressuposições, isto é, introduzir no texto um dado da realidade que se pode considerar conhecido pelos interlocutores mesmo sem ter sido citado anteriormente. Dessa maneira, o produtor do texto se adianta aos que defendem posição contrária à sua, atacando um de seus argumentos antes mesmo de ele ser posto. Além disso, a expressão possui valor de exclusão completa. É como dizer que "nem para isso serve tal coisa".
5. O tempo verbal predominante no último parágrafo do texto é novamente o presente do indicativo (dispõe, atentam, é). A seu lado, aparece o presente do subjuntivo (prevaleçam). O primeiro tempo expressa processos de validade permanente. Já o segundo aparece em uma oração subordinada, cuja oração principal apresenta o verbo no presente do indicativo.
6. Os tempos verbais que predominam no texto são: presente do indicativo, presente do subjuntivo e futuro do presente do indicativo. O texto em questão é dissertativo e os tempos predominantes são adequados para esse tipo de texto na língua portuguesa.        

sábado, 26 de março de 2016

Ano V - número 26 - mar./abr. / 16: Estudo dos verbos (III) (classe variável): valor e emprego das formas verbais - texto 1

TEXTO: 
Jegue de candidato causa briga em frente a hotel cinco estrelas
Renato Lombardi

         Um pequeno jegue, de não mais de um metro de altura, foi o pivô de uma das mais insólitas ocorrências já registradas no 4º. Distrito Policial, na Consolação. A região central viveu uma grande confusão, anteontem à noite, a partir da discussão entre o agente de segurança do Hilton Hotel, Edilberto Batista Gomes, de 28 anos, e o candidato a vereador pelo PMDB Osvaldo Martins de Oliveira, de 42 anos, por causa do animal. No final, todos os envolvidos acabaram presos, inclusive o jegue.
         Oliveira, conhecido como Vadão, estava desde o começo da tarde com seu jegue no centro da cidade participando de protestos contra o presidente Fernando Collor. Puxando o burro, Vadão passou pelas Praças da Sé e Ramos Azevedo. Quando seguia para a Rua da Consolação pela calçada da Avenida Ipiranga, o jegue resolveu dar uma parada na porta do Hilton.
         Um grupo de turistas americanos começou a bater palmas ao ver o animal com duas placas com os dizeres "Impeachment já" e "O Brasil é Nosso e Não Dele". A atitude do jegue, que tem o mesmo apelido do candidato, irritou o segurança do hotel Gomes. "Tire logo esse animal da calçada porque aqui é um hotel cinco estrelas e lugar de burro é na cocheira", ameaçou Gomes.
         Vadão disse que a Constituição lhe garantia o direito de ir e vir. Isto irritou ainda mais o segurança. "Ele deu um bico na perna direita traseira do jegue e ameaçou aleijar o animal", acusou o candidato. O gesto de Gomes revoltou Vadão, os turistas americanos e as pessoas paradas na porta do hotel. A Polícia Militar foi chamada. Soldados queriam obrigar o candidato a tirar o jegue do local. "Falei que meu animal fora agredido e que o segurança deveria ser preso."
         Para aumentar ainda mais a confusão, o jegue começou a zurrar. Mais de 20 pessoas _ turistas, gente que passava em frente ao hotel, policiais e seguranças _ se envolveram na discussão. Um soldado queria que todos fossem embora, mas mudou de ideia quando o jumento resolveu "fazer suas necessidades", na escadaria de acesso ao hotel. "Vai todo mundo prá delegacia, até o burro", ordenou o militar.
         No 4º. DP, um problema na hora de apresentar o jegue ao delegado Inácio de Melo: Vadão fez algumas tentativas, mas não conseguiu fazer o jegue, de 10 anos, subir os 20 lances de escada para chegar até a entrada do plantão. Acabou ficando em frente do prédio da delegacia, vigiado por um soldado. Um boletim de ocorrência por "maus tratos contra animal" foi elaborado e ele encaminhado para exames no Centro de Zoonose, sendo liberado no começo da manhã de ontem.
         Na clínica veterinária onde está internado, o jegue ontem ainda sangrava pela perna traseira direita. Revoltado com a agressão, Vadão quer o segurança na cadeia.
(O Estado de S. Paulo, 11/9/92.)

ANALISANDO O TEXTO
1. A forma verbal "causa", constante no título da reportagem, pode ser considerada uma ocorrência do chamado "presente histórico" porque o presente se refere aí a fato já ocorrido e concluído, apresentando-o com maior vivacidade.
2. O tempo verbal que predomina no primeiro parágrafo é o pretérito perfeito do indicativo (foi, viveu, acabaram). São processos acontecidos e concluídos no passado, passíveis de serem localizados com precisão (anteontem à noite).
3. Os tempos verbais presentes no segundo parágrafo são o pretérito perfeito do indicativo (passou, resolveu) e o pretérito imperfeito do indicativo (estava, seguia). O imperfeito indica o processo que estava em curso quando ocorreu o processo indicado pelo perfeito.
4. O gerúndio verbal presente no segundo parágrafo (puxando) indica processo que se prolonga de forma concomitante a outro (indicado pela forma verbal passou).
5. "Tire logo esse animal da calçada..." A forma verbal destacada está na terceira pessoa do singular do imperativo negativo. Trata-se de um comando, de um enunciado destinado a alterar o comportamento do ouvinte. No discurso indireto, corresponde a: "O segurança mandou que ele tirasse logo aquele animal da calçada porque ali era um hotel cinco estrelas e lugar de burro era na cocheira."
6. "Vadão disse que a Constituição lhe garantia o direito de ir e vir." No discurso direto, corresponde a: "Vadão disse: _ A Constituição me garante o direito de ir e vir."
7. "Falei que meu animal fora agredido e que o segurança deveria ser preso." Falei: pretérito perfeito do indicativo; exprime processo acontecido e concluído no passado; fora: pretérito mais-que-perfeito do indicativo; exprime processo concluído em momento anterior a outro passado; deveria: futuro do pretérito do indicativo; exprime fato futuro em relação a outro fato passado. A forma fora, do verbo ser, participa da formação da voz passiva analítica; a forma deveria, do verbo dever, confere noção de obrigatoriedade à locução.
8. O quinto parágrafo apresenta muitos tempos verbais: começou, envolveram, mudou, resolveu, ordenou: pretérito perfeito do indicativo, que indica processo ocorrido e concluído no passado; passava: pretérito imperfeito do indicativo, que indica processo passado concomitante a outro processo passado; queria: pretérito imperfeito do indicativo; indica processo continuado concomitante a outro no passado; fossem: pretérito imperfeito do subjuntivo; relaciona-se com o pretérito imperfeito do indicativo queria, da oração principal; vai: presente do indicativo, com valor de imperativo.
9. O tempo verbal empregado na última frase do texto (quer) é o presente do indicativo; indica que o desejo de Vadão permanece, estendendo-se desde a época dos acontecimentos narrados até o momento da leitura do texto.
10. Os tempos verbais que predominam no texto são o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito, o pretérito mais-que-perfeito e o futuro do pretérito do indicativo. Com esses tempos, costuma-se estruturar os textos narrativos na língua portuguesa. Os outros tempos ficam normalmente restritos ao discurso direto e às orações subordinadas.
11. No quinto parágrafo, a palavra prá não deveria receber acento gráfico porque se trata de um monossílabo átono. Essa e outras palavras estão em destaque porque são formas populares.
12. O texto proporciona diversos pontos de vista e impressões para reflexão: o autoritarismo; o abuso de autoridade, tão comum ao empregado que recebe algum poder de seu patrão; o preconceito social; a defesa dos direitos pessoais; maus tratos com os animais etc.    

domingo, 31 de janeiro de 2016

Ano V - número 25 - jan./fev. / 16: Estudo dos verbos (II) (classe variável): verbos regulares, defectivos e abundantes

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: A nova ortografia da língua portuguesa tornou-se obrigatória no Brasil em 1º. de janeiro de 2016, após o período ampliado de adaptação, que expirou em 31 de dezembro de 2015. Ela foi oficializada pelo Acordo Ortográfico assinado em dezembro de 1990 pelos países lusófonos. Portanto, este Blog, sendo, há quatro anos, veículo fidedigno dos fatos de nosso idioma através dos mais variados textos, seguirá rigorosamente a ortografia oficial a partir da presente publicação.

TEXTO: 
Ser e saber

Vi o vento soprar
e a noite descer.
Ouvi o grilo saltar
na grama estremecida.

Pisei a água
mais bela que a terra.
Vi a flor abrir-se
como se abrem as conchas.

O dia e a noite se uniram
para ungir-me.
O enlace de luz e sombra
cingiu os meus sonhos.

Vi a formiga esconder-se
na ranhura da pedra.
Assim se escondem os homens
entre as palavras.

A beleza do mundo me sustenta.
É o formoso pão matinal
que a mão mais humilde deposita
na mesa que separa.

Jamais serei um estrangeiro.
Não temo nenhum exílio.
Cada palavra minha
é uma pátria secreta.

Sou tudo o que é partilha
o trovão a claridade
os lábios do mundo
todas as estrelas que passam.

Só conheço a origem:
a água negra que lambe a terra
e os goiamuns à espreita
entre as raízes do mangue.

Só sei o que não aprendi:
o vento que sopra
a chuva que cai
e o amor.


(IVO, Lêdo.  Crepúsculo civil)



ANALISANDO O TEXTO
1. O título do poema é formado por dois verbos. Ser é classificado como um verbo anômalo por causa das grandes irregularidades que apresenta. No presente do indicativo, a primeira pessoa é sou; no presente do subjuntivo, a forma correspondente é seja. No pretérito perfeito, o tema é fo-, tirado de foste. Saber é um verbo irregular. No presente do indicativo e do subjuntivo, as primeiras pessoas são, respectivamente, sei e saiba. No pretérito perfeito, o tema é soube-, extraído de soubeste.
2. Nos verso "Vi o vento soprar / e a noite descer.", o verbo ver é irregular: vej-o; vi-ste, mas o verbo descer, não. Na verdade, o verbo descer apresenta um problema ortográfico, porque existe alternância entre as letras c e ç em sua conjugação (desço, desci, desça, desceste).
3. Ouvir é regular no tempo em que é usado no texto: ouvi, pretérito perfeito do indicativo. Esse verbo é irregular nas formas derivadas do presente do indicativo (ouço, ouça).
4. Ungir, conforme vários gramáticos, é um verbo defectivo, pois não apresenta a primeira pessoa do singular do presente do indicativo. O presente do subjuntivo desse verbo não pode ser conjugado. O modo imperativo se limita às formas diretamente derivadas do presente do indicativo: unge tu, ungi vós.
5. Cingir é outro verbo em que acontece problema ortográfico, havendo alternância entre as letras g e j (por exemplo, cinjo, cinges).
6. No verso "Jamais serei um estrangeiro.", a forma verbal destacada possui a seguinte formação: infinitivo impessoal + desinências.
7. Na última estrofe, aparece a forma verbal cai. Ela é irregular, pois as formas regulares possuem -e, e não -i.
8. É possível dividir o texto em partes com base nos tempos verbais usados. Nas três primeiras estrofes, ocorre o pretérito perfeito nas orações principais (vi, ouvi, pisei, uniram, cingiu). Isso se estende até os dois primeiros versos da quarta estrofe (vi); nos dois últimos versos, surge o presente do indicativo, que predomina até o final (escondem, sustenta, deposita, separa, temo, é etc.). O poema está claramente dividido em dois momentos principais: um que fala do passado do sujeito lírico e outro que trata de seu presente. Os tempos verbais tornam explícita essa divisão. Outros tempos aparecem esporadicamente, como por exemplo o futuro do presente.
9. Nas primeiras estrofes do poema, o sujeito lírico faz um relato de experiências sensoriais. São experiências do mundo natural. O sopro do vento, a descida da noite, o salto do grilo, a água, a flor aberta constituem as experiências que formarão o sujeito lírico, que afirma que a beleza do mundo o sustenta.
10. A partir da quinta estrofe, o sujeito lírico fala de seu modo de ser. As experiências do mundo natural serão fundamentais para a constituição de um sujeito lírico que só sabe o que não aprendeu, isto é, que só conhece realmente aquilo que apreendeu sensorialmente junto ao mundo.