terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ano III - número 18 - nov./dez. / 14: Estudo dos adjetivos (classe variável) - texto 2

TEXTO:
A pedra
  1. A pedra é bela, opaca,
  2. peso-a gostosamente como um pão.
  3. É escura, baça, terrosa, avermelhada,
  4. polvilhada de cinza.
  5. Contemplo-a: é evidente, impenetrável, 
  6. preciosa. 

     (Antônio Ramos Rosa)


ANALISANDO O TEXTO
1. A adjetivação dos quatro primeiros versos cumpre um papel diferente do que é exercido pela adjetivação dos dois últimos versos. A adjetivação dos quatro primeiros versos indica os aspectos físicos do objeto, atuando com finalidades descritivas: "opaca", "escura", "baça", "terrosa", "avermelhada", "polvilhada de cinza" fazem a descrição da pedra. Porém, há uma exceção: o adjetivo "bela", que traz uma certa subjetividade. Já os adjetivos "evidente", "impenetrável" e "preciosa" indicam a subjetividade do eu lírico, que revela os sentimentos despertados pela contemplação da pedra. Detalhe: o último adjetivo, "preciosa", é capaz de causar uma ambigüidade no poema. Não parece indicar que a pedra possua alto valor comercial, mas que se tornou rica sob o olhar de quem a contempla por suas qualidades.
2. O eu lírico consegue transformar um elemento do mundo físico num elemento repleto de humanidade através da evolução nítida da adjetivação do texto. Esta passa claramente da caracterização física para a caracterização psicológica. Assim, o texto demonstra como os dados do mundo que nos rodeiam adquirem sentidos devido à ação de nossa sensibilidade a respeito deles.  
 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ano III - número 17 - set./out. / 14: Estudo dos adjetivos (classe variável) - texto 1

TEXTO:
Extermínio também é brincadeira
Gilberto Dimenstein

         BRASÍLIA - A imprensa revelou ontem uma nova "brincadeira" inventada por crianças numa escola do Rio. O nome da brincadeira: "extermínio". No intervalo, escolhem um menino pequeno a ser submetido a uma sessão de pancadaria. Na quarta-feira passada, um garoto de sete anos, uma das vítimas, foi levado pela mãe direto ao Hospital da Lagoa. Estava com o corpo repleto de hematomas.
            O terrível da notícia não é apenas o garoto cheio de hematomas, mas como a violência vai-se incorporando ao cotidiano, capaz de virar brincadeira. A banalização da violência é, hoje, a principal questão política brasileira _ interessa mais à população do que a reforma ministerial ou a composições no Congresso. Está em jogo a eficácia do Estado de Direito democrático. Está em jogo também direito à vida. Em certas áreas, o direito de ir e vir é uma ficção. Quem vai pode não voltar.
         Daí ser absolutamente espantosa a reação de Leonel Brizola à entrevista do ministro Célio Borja. O ministro comparou o Rio a Beirute no auge da guerra. Brizola preferiu, entretanto, fazer uma competição. Disse que São Paulo era pior _ portanto é, concluiu com a precisão de engenheiro, uma "Beirute e meia". Só a indigência pode explicar a comparação macabra. O governador parece mais preocupado com a estatística do que com a violência.
      Tanto faz se o assassinato é no Rio, São Paulo, Paraná. A degradação é nacional. Quando crianças inventam brincadeiras como "extermínio", a vergonha não é do carioca, mas do brasileiro. Quando os governadores Luiz Antônio Fleury Filho e Leonel Brizola ficam competindo para saber quem administra o Estado menos violento, a vergonha não é do Rio ou São Paulo _ é de todos nós.
             Essa medíocre disputa não ajuda ninguém. Ambos, na realidade, deveriam estudar, juntos, mecanismos de colaboração, já que os marginais não são bairristas _ assaltam e matam em qualquer lugar. Será mais civilizado e inteligente que eles se comovam mais com o menino de sete anos cheio de hematomas do que com as estatísticas de uma competição inútil.  (Folha de S. Paulo, 24/4/92.)


ANALISANDO O TEXTO
1. Os dois primeiros parágrafos introduzem e delimitam o assunto do texto: a banalização da violência no cotidiano brasileiro. O texto chega a esse assunto depois de, no primeiro parágrafo, apresentar a nova brincadeira das crianças de uma escola da cidade do Rio de Janeiro. O segundo parágrafo faz um comentário dessa brincadeira, definindo, assim, o tema do texto.
2. A palavra daí, no começo do terceiro parágrafo, estabelece uma relação entre o conteúdo dos dois primeiros parágrafos (a exposição da nova brincadeira infantil e a constatação da banalização da violência) com dados novos: as palavras do então governador do estado do Rio de Janeiro em resposta a comentários do então ministro da Justiça. A relação estabelecida é de causa e conseqüência entre as informações iniciais sobre a violência e o espanto provocado pelas declarações do governador.
3. O quarto e o quinto parágrafos expõem a conclusão a que o texto chega: em lugar de disputas estatísticas, os governadores dos estados do Rio e de São Paulo deveriam esforçar-se para combater a violência _ banalizada e interestadual. Ao expor essa conclusão, o texto retoma a brincadeira infantil inicial, particularmente a vítima dela, e a relaciona com os governadores.
4. Com certeza, o título do texto é irônico, pois, além de se referir à nova brincadeira infantil, indica que o extermínio real, banalizado na existência cotidiana, tem sido tratado com muito pouca seriedade por aqueles que deveriam tentar diminuí-lo.
5. Existe diferença de significado entre as formas "a terrível notícia" e "o terrível da notícia". A segunda forma realça a qualidade, o atributo, e não o ente qualificado.
6. No terceiro parágrafo, o adjetivo "espantosa" se encontra no grau superlativo analítico, formado pela utilização do advérbio de intensidade "absolutamente".
7. O adjetivo "pior", também no terceiro parágrafo, encontra-se no grau comparativo de superioridade porque compara os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo _ o segundo é descrito como mais violento nessa passagem. "Pior" significa "mais mau". Portanto, é comparativo de superioridade.
8. No quarto parágrafo, o adjetivo "violento" está no grau comparativo de inferioridade. Os dois estados já citados são comparados novamente.
9. No último parágrafo, o produtor do texto emprega uma adjetivação: "medíocre", "juntos", "bairristas", "civilizado", "inteligente", "inútil". A maior parte desses adjetivos, sobretudo os mais "fortes", indicam julgamentos do autor do texto a respeito dos fatos por ele apontados. Provavelmente os governantes mencionados não considerem sua disputa medíocre ou inútil, por exemplo. 

sábado, 19 de julho de 2014

Ano III - número 16 - jul./ago. / 14: Estudo dos substantivos (classe variável) - texto 2

TEXTO: 
Circuito fechado (1)

         Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.  
(Ricardo Ramos, Circuito fechado)


ANALISANDO O TEXTO
1. "Circuito fechado" consiste em uma história que nos é contada, explorando a característica essencial dos substantivos, que é a função de nomear os seres e dados da nossa realidade. A história é contada através da enumeração de seres que mantêm entre si um sentido que o leitor consegue captar. Por meio desse sentido, o leitor constrói a história que está sendo contada.
2. O texto nos conta a história de um típico dia na existência de um homem que trabalha numa agência de publicidade, desde o despertar até o anoitecer. A relação entre essa história e o título do texto está no circuito que é fechado porque se repete invariavelmente todo dia.
3. A personagem apresentada pelo texto possui as seguintes características: trata-se de um homem que trabalha num escritório ou agência de publicidade. Esse dado, somado a outros, como a posse de um carro e de um televisor e o uso de determinados trajes, permite-nos localizá-lo socialmente: principalmente é um homem solitário, cuja vida se encontra amarrada a uma rotina que o angustia.
4. Neste texto, não se notam praticamente substantivos abstratos. Tal fato nos permite concluir que a história é contada pela enumeração dos objetos com que a personagem do texto entra em contato durante o dia. Daí a ausência de substantivos abstratos, que estariam ligados a dados do mundo psicológico não mencionados de modo explícito no texto.
5. Sugestão: Experimente contar um dia típico de sua vida, utilizando o mesmo processo usado neste texto. 

sábado, 24 de maio de 2014

Ano III - número 15 - mai./jun. / 14: Estudo dos substantivos (classe variável) - texto 1

TEXTO:

Paixão, ódio, traição,
amor, lágrimas, paz,
suspense, morte, sexo,
alegria, ficção, terror,
aventura, humor, dor,
medo, ambição, sonho,
história, matemática,
geografia, surpresa,
espionagem, saudade e
guerra no Riocentro.

   IV Bienal do Livro.
(Leia, agosto/89)


ANALISANDO O TEXTO
1. "Riocentro" é o único substantivo próprio presente neste texto publicitário.
2. Há dois substantivos derivados: "traição" e "espionagem".
3. Há também dois substantivos compostos: "geografia" e "Riocentro".
4. Predominam os substantivos abstratos, pois o texto apresenta sentimentos e nomes de ações que são temas da literatura.
5. O texto é formado quase exclusivamente por substantivos. Essa enumeração torna possível uma sintética e expressiva exposição da diversidade de possibilidades de um certo produto ou evento. Cada substantivo utilizado nomeia um dado do universo cultural capaz de ser localizado em uma feira de livros.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Ano III - número 14 - mar./abr. / 14: Estrutura e formação das palavras - II: composição e outros processos - texto 3

TEXTO:
Biotecnologia: Na base de tudo, a fermentação, no passado vista como coisa do diabo


         Na Idade Média, os pães eram feitos nos mosteiros. Havia mistério naquele movimento interno da massa, que crescia como se tivesse vida própria. Por isso, os monges piedosos acompanhavam todo o processo a rezar. Rezavam sempre e com fervor, pois acreditavam que o crescimento da massa era arte do demônio. Da mesma forma como havia o demo também atrás da fabricação do queijo, da cerveja e do vinho. Se não fosse o diabo, como explicar então aquela "vida" que de repente começava a pulsar dentro da mistura inerte?
          Foi só muito tempo depois que a humanidade descobriu o que de fato acontecia naquele processo: era a multiplicação de microorganismos num conjunto de reações químicas, que ficou conhecido então como fermentação. Hoje, curiosamente, esse mesmo processo está na base de uma das principais ciências de nosso século: a biotecnologia, que trata justamente do desenvolvimento e uso de seres vivos, inteiros ou em partes, na produção de alimentos e remédios em laboratórios.
             Quando o mundo se deu conta dos potenciais da biotecnologia nos anos 70, teve início um febril corre-corre nos meios científicos. Falava-se em criar plantas perfeitas, enormes e imunes a pragas e doenças, que revolucionariam a agricultura e resolveriam o problema da fome no mundo. Na medicina, acreditava-se que a cura do câncer, com a ajuda da nova ciência, estaria ao alcance da mão. E apostava-se também na criação de uma espécie de fonte da juventude, desenvolvendo hormônios capazes de retardar o envelhecimento das pessoas. Delirou-se, enfim.
       Depois que a poeira dos sonhos baixou, foi possível ver com serenidade do que era capaz a biotecnologia. Sem contar as pesquisas ainda em andamento, os produtos efetivos da nova ciência somam hoje algo em torno de uma dezena, mas tão importantes que é difícil enumerar os benefícios que trarão à humanidade em diversos setores.
        Os exemplos mais conhecidos são o hormônio que aumenta a produção do leite nas vacas, rejeitado no início pelos fazendeiros, temerosos de que isso faria os preços do produto caírem. Ou um novo tipo de tomate, mais graúdo e carnoso, que permite a produção de sucos e extratos mais concentrados. Ou ainda novas mudas de plantas, cultivadas em laboratório por uma técnica chamada micropropagação, que são mais viçosas e robustas que as normais.     (Revista Globo Ciência)

ANALISANDO O TEXTO
1. As palavras "microorganismo" e "micropropagação" possuem o elemento formador de origem erudita "micro-", que significa "pequeno". Portanto, elas estão ligadas ao mundo dos organismos microscópicos.
2. O processo de formação da palavra "corre-corre" é a composição por justaposição. Existe, na verdade, nela, um processo de repetição vocabular, muito utilizado para indicar movimento.
3. Com base na divisão em parágrafos do texto, podemos esquematizá-lo e explicar o tipo de orientação seguida na exposição dos dados: 1º.) Idade Média: o crescimento da massa do pão era visto como coisa do demônio; 2º.) Explicação do fenômeno do parágrafo anterior enquanto fermentação e apresentação da biotecnologia; 3º.) A biotecnologia provoca um entusiasmo inicial; 4º.) Momento atual da biotecnologia; 5º.) Expansão do parágrafo anterior, com explicitação dos produtos mencionados anteriormente. Concluindo: o texto opta pela seqüência histórica, começando da Idade Média para chegar aos dias de hoje.
4. O sentido da palavra "biotecnologia" a partir dos elementos que a formam é o seguinte: "bio-": vida; "-tecno-": técnica, arte, conhecimento de como se faz; "-logia": estudo, ciência. Portanto, trata-se da tecnologia, isto é, do conhecimento técnico das coisas vivas. Essa palavra é um exemplo perfeito de como os radicais eruditos são usados na linguagem técnica e científica para nomear novos dados e fatos.

  

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ano III - número 13 - jan./fev. / 14: Estrutura e formação das palavras - II: composição e outros processos - texto 2

         Neste início de 2014, o BLOG PROF. STEFAN - LÍNGUA PORTUGUESA - TEXTOS comemora festivamente o seu segundo aniversário. Juntamente com ele, os internautas leitores de diversos países, que, através dos textos apresentados, adquirem a real compreensão dos fatos da língua portuguesa.

TEXTO:
Cordão dos come-saco

         Em Londres, que ultimamente não tem sido uma capital das mais britânicas (ou talvez os britânicos é que não sejam tão londrinos assim, sei lá), vai se inaugurar uma exposição internacional de embalagem. Até aí, tudo normal, como dizem os anormais. Há, no entanto, uma nova indústria que se fará representar nessa exposição que está causando a maior curiosidade: a dos sacos comestíveis.
         Como, minha senhora, de quem é que é o saco? Calma, madama, eu já chego lá. A indústria foi inspirada na salsicha e isto dito assim fica meio sobre o jocoso, mas torno a explicar que, com vagar, se chega ao saco. É o seguinte: não sei se vocês já repararam que as salsichas, ultimamente, não têm mais aquela pele indigesta que a gente comia antigamente e ficava trocando seu reino por um bicarbonato. Hoje em dia, a pele das salsichas é fininha e a gente come sem o menor remorso estomacal posterior.
           Pois essa pelinha, irmãos, é de matéria plástica comestível. Foi inventada por um Thomas Edison das salsichas e aprovou num instante. E baseada nessa aprovação é que uma fábrica de embalagens estudou a possibilidade de fazer sacos para carregar comida das mercearias para o lar, capazes de serem também comidos, isto é, um saco de matéria plástica parecida com a das salsichas, que seriam vendidos aos armazéns e utilizados pelos fregueses para transportar a mercadoria comprada. Entenderam, ou tem leitor retardado mental?
           Agora, que fica bacaninha, isto fica. Num instante vão aparecer os estetas dos refogados, para melhor aproveitamento do saco. As Myrthes Paranhos do mundo inteiro vão publicar receitas de como se prepara um saco de matéria plástica para o almoço e os jornais, nas suas seções dominicais de culinária, terão títulos como este: "Saquinho de siri", "Saco au champignon", "Saco à la façon du chef", etc., etc.
            E parece até que aqui o neto do Dr. Armindo está vendo uma dessas grã-finas, sempre mais preocupadas com o aspecto exterior do que com o aspecto interior, fazendo um rigoroso regime alimentar e dizendo para a empregada, quando esta volta do mercadinho com as compras:
               _ Para mim não precisa preparar almoço, não. Eu como só o saco.
(Stanislaw Ponte Preta - Rosamundo e os outros)

ANALISANDO O TEXTO
1. O tipo de linguagem utilizado pelo texto é o registro coloquial. Comprovam essa afirmação as seguintes passagens: "sei lá"; "até aí, tudo normal"; "como, minha senhora"; "calma, madama, eu já chego lá"; "agora, que fica bacaninha, isto fica". O constante uso de formas diminutivas também constitui outra característica que justifica o caráter coloquial.
2. O cronista Stanislaw Ponte Preta trata os seus leitores com ironia muito bem-humorada. Pode-se observar isso através das seguintes passagens do texto: "Como, minha senhora, de quem é o saco? Calma, madama, eu já chego lá"; "Entenderam, ou tem leitor retardado mental?".
3. "Um Thomas Edison das salsichas" significa que Thomas Edison está por grande inventor. Já "ficava trocando seu reino por um bicarbonato" indica que alguém tudo faz para conseguir um remédio que o livre de uma desagradável indigestão.
4. Pela leitura do texto, é possível fazer a identificação de Myrthes Paranhos. Trata-se de uma especialista em culinária, muito popular na época em que foi escrita esta crônica. É evidente que ela mantinha uma coluna semanal em jornais.
5. A crônica possui um tom leve e bem-humorado, mas não deixa de ter um ácido direcionamento crítico. Critica a frivolidade do comportamento das classes sociais mais favorecidas, preocupadas apenas com a ostentação: "... uma dessas grã-finas, sempre mais preocupadas com o aspecto exterior do que com o aspecto interior...".
6. Quanto aos diminutivos: "fininha" e "bacaninha" possuem valor intensivo; "pelinha" e "mercadinho" indicam dimensões reduzidas.
7. No título da crônica, há o substantivo composto "come-saco". Ele corresponde a "puxa-saco". Essa relação é reforçada pela expressão "O cordão dos come-saco" e sugere que a moda dos sacos comestíveis iria talvez obter adeptos entre o "cordão" daqueles que aderem a todos os modismos e seguem todos os comportamentos considerados "novos". Sem dúvida, é um título completamente irônico.
8. A palavra "come-saco" nomeia um novo dado da realidade, isto é, um novo tipo de ser humano: o devorador de sacos comestíveis.