TEXTO:
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(MORAES, Vinicius de. Poesia completa & Prosa)
ANALISANDO O TEXTO
No "Soneto de separação", é empregado apenas um único tempo verbal, o pretérito perfeito do indicativo. O tema do soneto se relaciona com o valor desse tempo verbal, que é próprio para exprimir processos ocorridos e concluídos no passado. Essas noções se ligam perfeitamente à ideia da separação, do rompimento entre um momento passado e o presente.