A pedra
- A pedra é bela, opaca,
- peso-a gostosamente como um pão.
- É escura, baça, terrosa, avermelhada,
- polvilhada de cinza.
- Contemplo-a: é evidente, impenetrável,
- preciosa.
(Antônio Ramos Rosa)
ANALISANDO O TEXTO
1. A adjetivação dos quatro primeiros versos cumpre um papel diferente do que é exercido pela adjetivação dos dois últimos versos. A adjetivação dos quatro primeiros versos indica os aspectos físicos do objeto, atuando com finalidades descritivas: "opaca", "escura", "baça", "terrosa", "avermelhada", "polvilhada de cinza" fazem a descrição da pedra. Porém, há uma exceção: o adjetivo "bela", que traz uma certa subjetividade. Já os adjetivos "evidente", "impenetrável" e "preciosa" indicam a subjetividade do eu lírico, que revela os sentimentos despertados pela contemplação da pedra. Detalhe: o último adjetivo, "preciosa", é capaz de causar uma ambigüidade no poema. Não parece indicar que a pedra possua alto valor comercial, mas que se tornou rica sob o olhar de quem a contempla por suas qualidades.
2. O eu lírico consegue transformar um elemento do mundo físico num elemento repleto de humanidade através da evolução nítida da adjetivação do texto. Esta passa claramente da caracterização física para a caracterização psicológica. Assim, o texto demonstra como os dados do mundo que nos rodeiam adquirem sentidos devido à ação de nossa sensibilidade a respeito deles.