quarta-feira, 26 de março de 2014

Ano III - número 14 - mar./abr. / 14: Estrutura e formação das palavras - II: composição e outros processos - texto 3

TEXTO:
Biotecnologia: Na base de tudo, a fermentação, no passado vista como coisa do diabo


         Na Idade Média, os pães eram feitos nos mosteiros. Havia mistério naquele movimento interno da massa, que crescia como se tivesse vida própria. Por isso, os monges piedosos acompanhavam todo o processo a rezar. Rezavam sempre e com fervor, pois acreditavam que o crescimento da massa era arte do demônio. Da mesma forma como havia o demo também atrás da fabricação do queijo, da cerveja e do vinho. Se não fosse o diabo, como explicar então aquela "vida" que de repente começava a pulsar dentro da mistura inerte?
          Foi só muito tempo depois que a humanidade descobriu o que de fato acontecia naquele processo: era a multiplicação de microorganismos num conjunto de reações químicas, que ficou conhecido então como fermentação. Hoje, curiosamente, esse mesmo processo está na base de uma das principais ciências de nosso século: a biotecnologia, que trata justamente do desenvolvimento e uso de seres vivos, inteiros ou em partes, na produção de alimentos e remédios em laboratórios.
             Quando o mundo se deu conta dos potenciais da biotecnologia nos anos 70, teve início um febril corre-corre nos meios científicos. Falava-se em criar plantas perfeitas, enormes e imunes a pragas e doenças, que revolucionariam a agricultura e resolveriam o problema da fome no mundo. Na medicina, acreditava-se que a cura do câncer, com a ajuda da nova ciência, estaria ao alcance da mão. E apostava-se também na criação de uma espécie de fonte da juventude, desenvolvendo hormônios capazes de retardar o envelhecimento das pessoas. Delirou-se, enfim.
       Depois que a poeira dos sonhos baixou, foi possível ver com serenidade do que era capaz a biotecnologia. Sem contar as pesquisas ainda em andamento, os produtos efetivos da nova ciência somam hoje algo em torno de uma dezena, mas tão importantes que é difícil enumerar os benefícios que trarão à humanidade em diversos setores.
        Os exemplos mais conhecidos são o hormônio que aumenta a produção do leite nas vacas, rejeitado no início pelos fazendeiros, temerosos de que isso faria os preços do produto caírem. Ou um novo tipo de tomate, mais graúdo e carnoso, que permite a produção de sucos e extratos mais concentrados. Ou ainda novas mudas de plantas, cultivadas em laboratório por uma técnica chamada micropropagação, que são mais viçosas e robustas que as normais.     (Revista Globo Ciência)

ANALISANDO O TEXTO
1. As palavras "microorganismo" e "micropropagação" possuem o elemento formador de origem erudita "micro-", que significa "pequeno". Portanto, elas estão ligadas ao mundo dos organismos microscópicos.
2. O processo de formação da palavra "corre-corre" é a composição por justaposição. Existe, na verdade, nela, um processo de repetição vocabular, muito utilizado para indicar movimento.
3. Com base na divisão em parágrafos do texto, podemos esquematizá-lo e explicar o tipo de orientação seguida na exposição dos dados: 1º.) Idade Média: o crescimento da massa do pão era visto como coisa do demônio; 2º.) Explicação do fenômeno do parágrafo anterior enquanto fermentação e apresentação da biotecnologia; 3º.) A biotecnologia provoca um entusiasmo inicial; 4º.) Momento atual da biotecnologia; 5º.) Expansão do parágrafo anterior, com explicitação dos produtos mencionados anteriormente. Concluindo: o texto opta pela seqüência histórica, começando da Idade Média para chegar aos dias de hoje.
4. O sentido da palavra "biotecnologia" a partir dos elementos que a formam é o seguinte: "bio-": vida; "-tecno-": técnica, arte, conhecimento de como se faz; "-logia": estudo, ciência. Portanto, trata-se da tecnologia, isto é, do conhecimento técnico das coisas vivas. Essa palavra é um exemplo perfeito de como os radicais eruditos são usados na linguagem técnica e científica para nomear novos dados e fatos.