Apresento aos prezados internautas o meu novíssimo blog, denominado BLOG PROF. STEFAN - LÍNGUA PORTUGUESA - TEXTOS. Como o próprio nome do blog sugere, o texto, sendo a unidade básica da linguagem verbal, será também prioridade e ponto de partida da exposição e reflexão dos fatos lingüísticos.
O estudo gramatical desenvolver-se-á de forma viva e dinâmica, útil e prazerosa. Para tanto, ele será realizado de maneira contextualizada para aperfeiçoar a capacidade de elaboração de frases e textos bem construídos. A língua portuguesa viva e atuante se manifesta por meio das frases e dos textos que expressam as variadas e ricas faces comunicativas.
Diversos tipos de textos marcarão presença neste blog: de jornais e revistas, poemas e crônicas da atualidade, letras de músicas etc.
As referências gramaticais devidamente contextualizadas objetivam apresentar, sempre de forma clara, os fatos fundamentados da língua portuguesa culta.
Com certeza, o estudo da gramática será transformado num expressivo recurso de aprimoramento da leitura e da produção de textos.
Espero que você, internauta ávido de conhecimentos gramaticais para o seu aperfeiçoamento comunicativo, utilize este blog com bastante proveito! Portanto, seja muito, mas muito bem-vindo mesmo! PROF. STEFAN
TEXTO: letra de música - composição em parceria entre Chico Buarque & Roberto Menescal
Bye Bye, Brasil
- Oi, coração,
- Não dá pra falar muito não,
- Espera passar o avião.
- Assim que o inverno passar,
- Eu acho que vou te buscar,
- Aqui tá fazendo calor,
- Deu pane no ventilador,
- Já tem fliperama em Macau,
- Tomei a costeira em Belém do Pará,
- Puseram uma usina no mar,
- Talvez fique ruim pra pescar,
- Meu amor.
- No Tocantins,
- O chefe dos parintintins
- Vidrou na minha calça Lee,
- Eu vi uns patins pra você,
- Eu vi um Brasil na TV,
- Capaz de cair um toró,
- Estou me sentindo tão só,
- Oh, tenha dó de mim.
- Pintou uma chance legal,
- Um lance lá na capital,
- Nem tem que ter ginasial,
- Meu amor.
- No Tabariz,
- O som é que nem os Bee Gees,
- Dancei com uma dona infeliz,
- Que tem um tufão nos quadris,
- Tem um japonês trás de mim,
- Eu vou dar um pulo em Manaus,
- Aqui tá quarenta e dois graus,
- O sol nunca mais vai se pôr,
- Eu tenho saudades da nossa canção,
- Saudades de roça e sertão,
- Bom mesmo é ter um caminhão,
- Meu amor.
- Baby, bye, bye,
- Abraços na mãe e no pai,
- Eu acho que vou desligar,
- As fichas já vão terminar,
- Eu vou me mandar de trenó
- Pra Rua do Sol, Maceió,
- Peguei uma doença em Ilhéus,
- Mas já tô quase bom.
- Em março vou pro Ceará,
- Com a bênção do meu orixá,
- Eu acho bauxita por lá,
- Meu amor.
- Bye, bye Brasil,
- A última ficha caiu ,
- Eu penso em vocês night and day,
- Explica que tá tudo okay,
- Eu só ando dentro da lei,
- Eu quero voltar, podes crer,
- Eu vi um Brasil na TV,
- Peguei uma doença em Belém,
- Agora já tá tudo bem,
- Mas a ligação tá no fim,
- Tem um japonês trás de mim,
- Aquela aquarela mudou,
- Na estrada peguei uma cor,
- Capaz de cair um toró,
- Estou me sentindo um jiló,
- Eu tenho tesão é no mar,
- Assim que o inverno passar,
- Bateu uma saudade de ti,
- Tô a fim de encarar um siri,
- Com a bênção do Nosso Senhor,
- O sol nunca mais vai se pôr.
1. O estudo da língua se torna muito mais relevante quando é integrado ao painel da comunicação humana. Por essa razão, os dois primeiros textos são dedicados a esse tão importante tema. A língua pode fornecer informações a respeito da origem social dos interlocutores, do grau de intimidade existente entre eles, do tratamento da mensagem de acordo com o perfil do receptor.
2. O texto nos apresenta um ato de comunicação em pleno desenvolvimento. A linguagem utilizada é coloquial e descontraída, sugerindo uma relação íntima entre o emissor e o receptor. O canal de comunicação que os une é o telefone.
3. O texto organiza a mensagem por meio da enumeração aparentemente desconexa de fatos e imagens. Essa enumeração indica a desorganização da mente do emissor da mensagem, que parece ter uma existência aventureira e errante num universo confuso e desconhecido.
4. O referente a que a mensagem remete é uma situação, ou seja, a situação em que se encontra o saudoso e desencontrado emissor.
5. A falta de uniformidade de tratamento é uma das marcas da coloquialidade do texto. A mistura dos tratamentos "tu" e "você" é condenada na forma culta. "Espera (tu) passar o avião" (linha 3), "Eu acho que vou te buscar" (l. 5), "Eu vi uns patins pra você" (l. 16), "Oh, tenha (você) dó de mim" (l. 20), "Explica (tu) que tá tudo okay" (l. 52), "Eu quero voltar, (tu) podes crer" (l. 54), "Bateu uma saudade de ti" (l. 66). Todas essas frases deveriam adotar uma mesma forma de tratamento. Assim, teríamos na terceira pessoa: "Espere (você) passar o avião", "Eu acho que vou buscar você" ou "Eu acho que vou buscá-la", "Explique (você) que está tudo okay", "Eu quero voltar, pode crer", "Bateu uma saudade de você".
6. As marcas de coloquialidade são inúmeras. Eis algumas delas: "Não dá pra falar muito não" (l. 2), "Aqui tá fazendo calor" (l. 6), "Já tem fliperama em Macau" (l. 8), "Vidrou na minha calça Lee" (l. 15), "Pintou uma chance legal" (l. 21), "Um lance lá na capital" (l. 22), "O som é que nem os Bee Gees" (l. 26). Essa forma de utilizar o código nos permite observar a relação entre emissor e receptor como muito próxima, sem nenhuma formalidade social.
7. Se a relação entre o emissor e o receptor da mensagem fosse extremamente formal, o trecho localizado nas linhas 21, 22 e 23, por exemplo, poderia ser adequado assim: Surgiu uma excelente oportunidade, uma colocação lá na capital. Não é necessário sequer ter concluído o ensino fundamental para obtê-la.
8. A construção do texto na forma de conversa telefônica possibilita contrapor um Brasil que está próximo do emissor a um Brasil que se pode ver na TV. Trata-se do Brasil devastado pelos empreendimentos de desenvolvimento do governo em oposição ao Brasil rural e urbano das regiões já ocupadas.